Dilma chega em vantagem ao 2º turno e Serra tem obstáculos para “virada”

04/10/2010 14:02

“Sucessão de erros” prejudicou tucano, que irá disputar eleitores de Marina Silva

Agência Estado e Julia Chequer/R7 03.10.2010

Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) voltarão a se enfrentar no dia 31 de outubro

 

Do R7

Após receber quase 47% dos votos e ficar em primeiro lugar na votação presidencial deste domingo (3), a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, enfrentará o segundo turno das eleições com a vantagem de ter conseguido se mostrar aos eleitores como continuadora do atual governo, dizem especialistas ouvidos pelo R7.

Já para o tucano, que tentará “virar” nas urnas o resultado no próximo dia 31, a “missão” é mais difícil do que ele pensa, avaliam os analistas ouvidos sobre os cenários da segunda fase da disputa pelo Planalto.

Na votação deste domingo (3), Dilma obteve 14,5 milhões de votos a mais do que Serra, que teve pouco mais de 32% dos votos. O segundo turno ocorreu graças à votação obtida por Marina Silva (PV), que conseguiu votos de 19% do eleitorado.

Enquanto Serra deve encarar essa etapa da disputa como uma “segunda chance”, a campanha petista não deve sofrer grandes alterações em relação ao primeiro turno.

Isso porque, na avaliação dos especialistas, Dilma foi “feliz” ao se apresentar ao eleitor como a opção da “continuidade” do governo Lula, estratégia que deve ser mantida agora, como explica o cientista político Carlos Ranulfo, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

 


- A maior explicação [para o crescimento de Dilma] foi o fator governo. [...] A Dilma representa uma continuidade de governo Lula.

Apesar de ter crescido graças, em grande parte, à popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à boa avaliação do governo, Dilma conseguiu construir uma “imagem própria” ao longo da campanha, avalia cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos).

- O Lula teve um desempenho brilhante na medida em que conseguiu transferir para ela, em votos, sua popularidade. [...] Mas para chegar nesse nível, para conseguir se eleger no primeiro turno, ela teve um crescimento próprio. Ela se construiu nesse período, ela cresceu muito.

Desafios de Serra


Nesta etapa, a campanha de Serra deverá tentar superar a “sucessão de erros” obtida ao longo da campanha. A começar pela demora em escolher um vice, o que gerou um mal-estar com os demais partidos da coligação, lembra Maria do Socorro.

- Foram tantos erros. [...] Mas a escolha do vice foi crucial, porque quebrou dentro da própria campanha os apoios em torno da candidatura de Serra.

Sem conseguir convencer o ex-governador mineiro Aécio Neves (PSDB) para compor a chapa com Serra, a campanha acabou optando pelo deputado federal Indio da Costa (DEM-RJ), no final de junho. A demora na escolha, porém, gerou cobranças por parte de outros partidos coligados, como o PTB.

O desafio agora, diz a especialista da Ufscar, é conseguir voltar a motivar os aliados, já que, no primeiro turno, o próprio Roberto Jefferson (presidente do PTB,) declarou que votaria em Plínio de Arruda Sampaio (PSOL).

Outra tarefa que o tucano precisa enfrentar é em relação às propostas. Para Celso Roma, do Cedec (Centro de Estudos da Cultura Contemporânea), a falta de um programa de governo – o tucano apresentou à Justiça Eleitoral apenas discursos – não contribuiu para exaltar suas qualidades como administrador.

- [Serra precisa fazer] Tudo que ele não fez no primeiro turno. Ser mais propositivo. Apresentar programa de governo com propostas concretas para resolver os problemas sociais e econômicos do país. [...] E reforçar a imagem dele de bom administrador.

Carlos Ranulfo diz que Serra precisa se apresentar como alguém da oposição, ao contrário do que fez até agora.

- Ele não foi coerente, ficou falando que não olhava para o passado, mas só falou do passado. Não defendeu o governo do Fernando Henrique Cardoso [ex-presidente, também do PSDB]. Ele não conseguiu se sair bem porque não conseguiu encarnar um projeto de oposição.

Mas talvez o maior desafio do tucano seja tentar conquistar o eleitorado de Marina, cujo crescimento na reta final impulsionou o segundo turno. Isso porque ainda não é possível avaliar se o eleitorado verde deve seguir o PSDB ou se deve migrar para a candidata do PT – partido de origem da ex-ministra do Meio Ambiente.

Os eleitores voltam para as urnas para escolher o próximo presidente da República no próximo dia 31.